A CHEGADA DO CHÁ À EUROPA Durante a dinastia Song (960-1279 d.C.) o comércio do chá está em plena expansão. Uma vasta rede de rotas comerciais onde se incluem a rota do chá e do cavalo ou a rota da seda permitem disseminar o chá do Império Chinês por regiões longínquas a Ocidente. No entanto, o consumo de chá na Europa teve início apenas no século XVII. Em 1557 os portugueses estabelecem em Macau o primeiro entreposto comercial europeu em território chinês. Esta plataforma estratégica permitiu a Portugal um papel preponderante nas trocas comerciais entre a China, a Europa e o Japão. Instalados em Macau junto à foz do rio das pérolas, os portugueses conhecem de perto os costumes da cultura cantonesa como o de beber chá. Certamente durante esse período terão sido enviadas para a corte portuguesa caixas com as revigorantes folhas, que garantiam a longevidade da população chinesa. Na divulgação do chá na Europa e no nosso país os escritos dos missionários jesuítas que entretanto partiam para Macau tiveram um papel preponderante: Gaspar da Cruz o primeiro missionário jesuíta português que partiu para a China em 1556 ao regressar quatro anos depois escreveu sobre a sua experiência e teceu elogios ao valor terapêutico do chá; mais tarde em 1643 foi o Padre Álvaro Semedo que na sua obra História do Império da China, refere a importância do chá, a forma como era preparado e os seus benefícios. Também o expedicionário veneziano Giambattista Ramusio escreve Chai Catai um texto sobre o chá e as suas características medicinais, mais tarde compilado no livro póstumo Navigationi et Viaggi em 1559. O primeiro registo oficial da chegada de um carregamento de chá a um porto ocidental data de 1606, e foi efetuado pela Companhia Holandesa das Índias Orientais que fazia a ligação entre Java e Amesterdão.
Apesar da fundação da sua concorrente britânica no início do século XVII, a Companhia Holandesa das Índias Orientais irá manter o monopólio do comércio do chá na Europa até 1669. O CHÁ E A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS ![]() A partir do final do século XVII, a vaga de emigrantes holandeses e ingleses rumo ao Novo Mundo tem um papel preponderante na introdução do chá nesse território colonial. Quando os ingleses tomam definitivamente Nova Amesterdão aos holandeses, em 1674, e lhe dão o nome de Nova Iorque constatam que o consumo do chá estava já enraizado na sociedade. À semelhança do que acontecia em Londres existiam também na cidade: coffee houses que serviam chá, e pleasure gardens, jardins em que se realizavam concertos, peças de teatro, e outras atividades culturais, e onde não faltava o chá. Progressivamente o comércio do chá vai-se estendendo a outras regiões, e em 1730 a bebida era muito apreciada e servida em belas porcelanas chinesas pelas famílias mais abastadas de Boston e Filadélfia. Com o crescimento do comércio em Nova Iorque, Boston e Filadélfia, o chá e os seus acessórios figuram entre os produtos regularmente expedidos de Londres. Os artigos enviados através da Companhia Britânica das Índias Orientais, e em especial o chá, eram alvo de pesadas taxas por parte do governo britânico. O que propicia o surgimento de um mercado negro: os mercadores americanos adquiriam o chá em Londres e expediam-no clandestinamente ou compravam-no aos holandeses livre de impostos. Face a esta situação o Parlamento aprovou a 10 de Maio de 1773 a Lei do Chá que concedia à Companhia Britânica das Índias Orientais o monopólio da venda da bebida. Esta medida foi o golpe final de uma série de decisões impopulares e transformou num barril de pólvora as relações com os colonos americanos. É então reforçado o boicote a produtos ingleses, em especial ao chá. Este clima de tensão culmina num episódio que ficou conhecido como Boston Tea Party: indiferentes a protestos, três navios da Companhia Britânica das Índias Orientais permanecem ancorados no porto de Boston, levando a que na noite de 16 de dezembro de 1773 manifestantes disfarçados de índios Mohawk assaltem as embarcações, lançando à água 340 arcas de chá, cerca de 92.000 libras de prejuízo e transformando o porto num bule gigante.
Em resposta o governo britânico manda fechar o porto e envia tropas para ocupar a cidade. Represálias que desencadeiam os acontecimentos que conduzirão à Guerra da Independência do Império Britânico e à formação dos Estados Unidos da América. | D. CATARINA LEVA O CHÁ PARA INGLATERRA ![]() Se hoje associamos o costume de beber chá aos ingleses, é interessante desvendar como esse gosto terá surgido no século XVII. É que o chá chegou a terras de Sua Majestade em 1662 pela mão da portuguesa Catarina de Bragança, filha do Rei D. João IV e da Rainha D. Luísa de Gusmão. A princesa portuguesa casa com o Rei D. Carlos II da dinastia Stuart e leva consigo para Inglaterra uma arca de chá da China, como parte do seu dote que incluía, entre outros privilégios, a cedência de Tânger e Bombaim. D. Catarina apresenta aos ingleses a sua bebida de eleição – o chá – que desde logo se revela a mais apreciada na corte. O charme do chá e o encanto de D. Catarina arrebatam por completo a nobreza britânica. Em 1663 o poeta Edmund Waller dedica à Rainha, por ocasião do seu aniversário, um belo poema que dá provas desse fascínio, nos versos iniciais pode ler-se:
«Venus her myrtle, Phoebus has her bays; Tea both excels, which she vouchsafes to praise. The best of Queens, the best of herbs, we owe». Eleita pela realeza e aristocracia, a nova bebida desperta a curiosidade de poetas, pintores, e outros artistas, muitos deles frequentavam as coffee-houses de Londres, então na moda. Em breve, o chá seria vendido na cidade a preços exorbitantes, passando a ser a atração desses espaços e abrindo caminho para as primeiras tea-houses.
A Inglaterra fez a sua primeira encomenda de chá à Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1664. |
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